sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Thomas Tuchel é uma maravilha

Sim, Thomas Tuchel é uma maravilha, e seu Borussia Dortmund também. São 12 partidas oficiais, 11 vitórias consecutivas, invencibilidade, 44 gols marcados, apenas 13 sofridos e, acima de tudo, aspectos interessantíssimos que fazem o clube voltar a sonhar alto. Afinal, os aurinegros divertem, impactam, deixam lições e exaltam seu projeto futebolístico neste início de 2015-16.

Trabalho de Thomas é magnífico (foto: Reprodução)

Após o natural desgaste ideológico de Jürgen Klopp no comando amarelo e a medíocre temporada 2014-15, Thomas Tuchel foi o escolhido para guiar o futuro da equipe. Com uma forma distinta de observar o esporte, o ex-técnico do Mainz revolucionou quase tudo e já impôs seu DNA no time de Dortmund - em pouquíssimos meses de trabalho. Unindo coisas de um jogo de posição "guardiolista", pensamentos próprios e arrebatadora capacidade de transmitir isto, Tuchel construiu em mínimas semanas o que certos treinadores não fazem em uma vida. Tecendo a maior parte das coisas desde a posse, o alemão busca controlar na palma das mãos as várias situações ou fases que um confronto de futebol oferece, planificando detalhes de forma espetacular e dosando o ritmo do duelo à sua maneira. Se ainda restam boas dúvidas, este é o senhor Tuchel.

Thomas busca ataques posicionais incessantemente, pois daí que surgem as "pernas" de seu jogo. Para tal, antes de realmente ativar os mecanismos, o conjunto troca alguns passes horizontais, diminui a velocidade, obriga o rival a recuar - na Bundesliga, poucos pressionam a saída oponente por muito tempo - e, mentalmente fresco, começa a executar movimentos previamente definidos para ir ganhando terreno cada vez mais. Além do citado, tal ação ainda impede que a bola seja rapidamente perdida e os atletas tenham de gastar energias para recuperá-la novamente. Após se estabelecer no campo adversário, o Borussia tende a utilizar dez de seus onze homens para gerar espaços e manejar as linhas de marcação, almejando que superioridades numéricas e posicionais ocorram juntas e criem possibilidades maiores. Assim, há uma relativa imprevisibilidade e indecisão.

Considerando que os números quase nada somam ao explicar este atual Dortmund, o 4-2-3-1 e o 4-3-3 (sem a bola, 4-4-1-1 e 4-1-4-1, respectivamente) se alternam. Daí, a dinâmica ofensiva tem: Shinji Kagawa e Ilkay Gündogan se alinhando a Julian Weigl, sempre distantes e com o japonês, às vezes, uns passos à frente; laterais propiciando largura, adiantados; extremos por dentro, gerando opções de passe verticais entre linhas rivais; Mats Hummels, sobretudo, e Sokratis Papastathopoulos prolongando as conduções para atrair marcadores e abrir linhas de passe, também apoiando jogadas laterais para criar vantagens no setor; e Pierre-Emerick Aubameyang rodando, buscando estar próximo ao esférico. O grande objetivo é acumular gente em um flanco, chamar os inimigos para ali, fazer a esfera girar velozmente e atacar o lado oposto com lateral que está largo.

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Um ataque posicional amarelo, cheio de detalhes
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Borussia ativando seu mecanismo ofensivo principal

Vale ressaltar que, após a bola rodar e o lance virar para a outra beirada, o jogador que a recebeu dificilmente tenta um cruzamento alto, em geral arriscando por baixo - não existem tantos grandes cabeceadores na equipe de Tuchel, e ele sabe disso. Na fase defensiva, a questão é simplesmente sair dela, recuperando a posse o mais rápido possível. Para isto, o conjunto ostenta agressivas pressões por todo o gramado, independentemente da altura ou zona, ainda que tudo se intensifique quando o adversário detentor da pelota está perto da linha lateral, uma marcadora natural. Logo depois das perdas, porém, afim de evitar um contragolpe, a intensidade do pressing também tende a ser maior. Posteriormente aos roubos, ora os aurinegros relembram Klopp e verticalizam tudo, ora controlam o ritmo para evitar um contexto de transições ofensivas em campo aberto e impor as suas vontades.

Certo é que, neste começo de ciclo, além de méritos coletivos, dois jovens talentos chamam a atenção: Julian Weigl e Jonas Hofmann. Aos 20 anos recém-completos, o primeiro é termômetro amarelo, sabendo quando dar passes administrativos para dosar o ritmo, quando arriscar e elevá-lo, quando avançar uns metros na saída para fixar rivais e manter os zagueiros com espaços, quando recuar para estabelecer supremacias e, sobretudo, nunca se distanciando das tramas, seja para pressionar após as perdas de bola, seja como opção de passe frequente ou ainda para cobrir colegas. Em suma, um garoto com mente veterana e entendimento de jogo absurdo. Já Hofmann, também cheio de minutos e mais velho, tem colocado em prática as teorias de Tuchel, além de desequilibrar partidas e já somar quatro assistências e dois gols. Dois destaques, por certo.

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Pressão coletiva após perdas
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Facetas do time alemão

Se Thomas Tuchel já construiu toda esta estrutura em algumas semanas de trabalho duro, não dá para não pensar o que será possível com mais dias à frente do forte grupo do Vale do Ruhr, que estimula suas rotações. Um tanto Josep Guardiola, sempre tentando conectar tudo o que dá dentro da equipe (em relação aos treinamentos, também), Tuchel ainda mantém forte seu lado alemão, de ações verticais. Juntando movimentos consagrados de uns e coisas de outros, o técnico montou seu modelo de jogo, criou seu jogo de posição. Afinal, ele é uma maravilha.

3 comentários:

  1. Fala, Lucas. Parabéns à dua iniciativa. Esta maneira de jogar de TT não tem nenhuma novidade do modelo de Guardiola. Além da cópia do jogo de posição também há:

    - Atrair o adversário para um lado do campo.

    -Conduzir pra cima do adversário a bola pra atraí-lo.

    - Rápida mudança de postura (ataque-defesa, mudança de chip). Na verdade, Mourinho já faz isso desde quando treinava o Chelsea, Pep fazia isso no Barça e Tite faz isso no Corinthians.

    - E a possível verticalização após recuperar a bola, como dissestes, é uma imitação de Klopp.

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  2. As ideias de jogo das equipes vão ficando cada vez mais parecidas. O mérito diferencial do técnico vai acontecer sobre a capacidade de incorporar no grupo em menor tempo possível.

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  3. As ideias de jogo das equipes vão ficando cada vez mais parecidas. O mérito diferencial do técnico vai acontecer sobre a capacidade de incorporar no grupo em menor tempo possível.

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