quinta-feira, 25 de junho de 2015

Campeões de 2014-15: Bayern de Munique

Um ladrão de ideias. Assim pode ser definido Josep Guardiola, que se auto-intitula este "bandido futebolístico". Desde o início de sua carreira, muitas foram as influências sobre o técnico. Desta maneira, pegando detalhes aqui e ali, Guardiola construiu sua visão esportiva. Em 2014-15, muito disto esteve à mostra, com o vasto repertório do Bayern de Munique, campeão da Bundesliga.

Enquanto inteiro, Bayern fez muito (foto: Reprodução/Getty Images)

Apesar de extremamente condicionada pelas lesões, temporada do time de Munique se apresentou ótima. Um conjunto facilmente mutável, que teve inúmeras variações e diversos aspectos interessantes. Desde o ponto de largada, "Pep" deixou claro seu habitual jogo de posição, onde objetivo é criar superioridades e ter linhas de passe pelo relvado - distintos mecanismos, para tal. Regra dos seis segundos (após perda da esfera, instantes iniciais são de pressing agressivo, buscando retomada ou quebra de transição ofensiva rival), controle da posse e vantagens (numéricas e posicionais): nada novo, tudo mantido no jogo de Guardiola e coisas vitais para fluência do mesmo. Dentro disto, Xabi Alonso foi fundamental. Fora outros atletas, pontualmente ou não, também importantíssimos.

Claramente, houve tentativa de saída lavolpiana por todo o ciclo. Algo ótimo para quem precisa, semanalmente, se estabelecer no campo rival com segurança; além disto, maioria dos adversários nacionais tinham dois homens para pressionar, o que já criava superioridade (3x2). Quando equipe não teve defesa a 3, contou com recuos de Xabi - em sua ausência, outros meio-campistas -, perfeito neste sentido, entre dupla de zaga. Alonso, aliás, pôde exibir todo seu entendimento de jogo nestes meses de competição. Geriu time, ativou companheiros, produziu supremacias e acertou 90% dos passes (2348 concluídos) na Bundesliga. Ainda que nível tenha diminuído em 2015, até por problema contextual e sobrecarga, espanhol terminou como um dos principais fatores de Josep.

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A inteligência de Xabi
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Em outro momento, movimento destacável

Certos embates foram simbólicos, expuseram as ideias de "Pep". Goleadas sobre Roma (7 a 1), Hamburgo (8 a 0) e Colônia (4 a 1), por exemplo, indicaram bem objetivos do comandante catalão. Em todas, tradicional característica de se defender por pouco tempo (regra dos seis segundos), controlar tudo e, de diferentes formas, criar vantagens - também espaciais, ativando atletas desequilibrantes. Contra adversários alemães, laterais-internos, verdadeiros internos entre linhas inimigas e pontas possibilitando largura. Fluidez e linhas de passe por dentro, desequilíbrios por fora. Conceito parecido ante romanistas, mas dissemelhante execução e melhor exibição da temporada vermelha.

Algo diferente frente ao Shakhtar Donetsk, no triunfo por 7 a 0. 4-3-1-2 (com ou sem a bola), Arjen Robben e Franck Ribéry no meio, circulação mais veloz, clima de virada. Que voltaria contra o Porto (6 a 1), com grupo já limitado. Nestes casos, para acelerar seu jogo e impedir que isto afete toda a partida, o instantâneo pressing tem enorme valor. Pois um duelo transicional é arriscado, pesa para ambos e pode trazer surpresas.

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Flagrante dos laterais-internos
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Intensidade bávara após perda

Sem seu maior facilitador de sistemas, além de não poder contar com principais produtores de desequilíbrios e ter um impreciso Mario Götze, fim de 2014-15 foi muito amargo para Guardiola e companhia. Ainda que Thiago Alcântara tenha retornado em março, faltavam peças à altura dos pensamentos "guardiolistas" - na eliminatória contra Barcelona (aqui e aqui), nos momentos de superioridade, faltou quem decidisse. Neste período final, conjunto passou a ter menos alternâncias e, em meio às diversas lesões, cresceram os jovens Gianluca Gaudino e Mitchell Weiser. Basicamente, Bayern forçado a ser mais "normal". Condicionado.

Antes, entretanto, brilharam David Alaba e suas incontáveis funções. Sempre vital para funcionamento coletivo, austríaco se tornou ponto chave para mudanças de Josep. Assumiu papel de protagonista, fez coisas maravilhosas. Seja como zagueiro-lateral em uma linha de 3, lateral em uma de 4, interno (direito ou esquerdo) ou componente de double pivot, David nunca deixou centro dos planejamentos. Foi, enquanto jogou, maior auxiliar de Xabi na cabine de controle. Contudo, grande destaque se deu enquanto esteve sendo falso zagueiro, incorporando-se ao meio a qualquer momento. Ocupou espaços, criou tantos outros. Tudo aos 22 anos.

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O fundamental David
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Dois conjuntos diferentes

No balanço de toda a temporada, futebolisticamente, não há o que criticar. Guardiola mudou, mexeu, variou, potencializou talentos e utilizou um pouco de vários treinadores históricos. Afinal, ele é o ladrão de ideias. E, se alguém quiser roubar as suas, que roube. Ele permite. Porque, como Josep disse, o futebol é jogado para o povo. Que muitos furtem seus pensamentos, e que "Pep" roube outros mais. O esporte agradece.

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