terça-feira, 7 de julho de 2015

Campeões de 2014-15: Barcelona

Após tantos anos atuando de maneira parecida, possuindo detalhes pré-estabelecidos, melhor versão barcelonista na temporada foi justamente o oposto. Exaltando qualidade de seu trio ofensivo, deixando que jogassem às suas maneiras. Desta forma equipe atingiu seu ápice, levando La Liga, Copa do Rei e Liga dos Campeões 2014-15. Porém, antes das conquistas, diversas coisas ocorreram. Boas e ruins, moldaram time campeão.

Principal troféu blaugrana (foto: Reprodução)

Com bem definiu Victor Mendes, existiram três conjuntos distintos durante ciclo catalão. Primeiro, compondo 4-3-1-2 (4-3-2-1 na fase defensiva). Lionel Messi trequartista - como havia terminado Mundial 2014 -, laterais proporcionando amplitude e internos próximos a eles. Depois de várias temporadas, uma equipe sem pontas. Que dependia muito do argentino, já que outros atletas acumulavam-se nos flancos e dificilmente criavam linhas de passe centrais. Contudo, inicialmente pouco participativo, Lionel também não era constante presença por ali, se distanciando das partidas e propiciando atascamento. Pois balão rodava de um lado para outro, passava por Sergio Busquets e seguia rodando. Assim, sem ganhar metros, posse era inútil e naturalmente débil. Algo que rapidamente mudou, com camisa 10 recuando para receber e lançar. Mas, longe da meta rival, gerando outro problema. Cota de gols diminuiu, Messi transformou-se em assistente.

Além de tudo, coletivo ainda mostrava-se extremamente dependente de um irregular "Leo". Ora ativo, conectando companheiros, ora caminhando pelo gramado. Porém, certamente melhor do que outrora. Fora diminuição de Neymar, robotizado em um jogo de posição onde sua maior responsabilidade era ser uma das flechas do arco culé. Sem a bola, apesar de linha defensiva seguir adiantada, Barcelona não oprimia como em outras temporadas. Após trio ofensivo ficar para trás, então, caos se estabelecia e era fácil criar superioridades. O que Real Madrid fez no Santiago Bernabéu, na estreia de Luis Suárez. Neste período, Busquets, regista descomunalmente interpretativo, teve de "esconder" péssimas transições defensivas blaugranas. Tanto que catalães sofreram poucos gols, apesar dos supracitados detalhes. Desta maneira, imperfeito e desagradável, terminava primeiro conjunto de Luis Enrique. Faltavam outros dois.

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Atolamento do inicial Barça
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Como, no princípio, time buscou fluência

Segunda parte do 2014-15 barcelonista foi marcada por 4-3-3 (4-1-4-1 ao negar espaços) e, em um primeiro momento, Suárez partindo da ponta direita. Coisa que durou pouco mais de 45', com Messi rumando ao flanco. Logo no começo, superior ocupação do gramado e defesa posicional menos frágil. Basicamente, equipe já não dependia tanto de Busquets na fase defensiva, nem de Lionel na ofensiva. Utilizando triângulos ocasionados por variações, evolução era clara. Contudo, ainda que coletivo estivesse jogando bem, mudança de patamar só se daria quando wingers passassem a ter menor liberdade, elevando ideias rígidas e previamente elaboradas. Não que isto inexistisse antes, mas agora seria algo de melhor encaixe. Automatismos criados para trucidar.

"Leo" e Neymar profundamente abertos - quase pisando sobre linha lateral -, possuindo pés trocados, centro e lado fraco das jogadas à disposição. Assim, em diversos momentos, Daniel Alves adquiria princípios de lateral-interno e se transformava em falso meio-campista. Movimento que subutilizava Ivan Rakitic, responsável por diagonais externas que objetivavam pavimentar caminho dos companheiros de beirada destra. Na banda oposta, muito mais voltada ao fim das tramas, não havia uma definição tão clara. Ali, apoios de Jordi Alba, Andrés Iniesta e "Luisito" a ex-atleta do Santos produziam vantagens numéricas. Neste estágio, notabilizaram-se passes e finalizações em rosca de Messi. Luis Enrique havia conseguido, seu Barça estava em outro nível.

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Complexidade do lado destro blaugrana
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Símbolo do ciclo catalão

Por fim e não menos importante, fase de exaltação da qualidade. Diminuindo conceito do homem livre, sem direções campais pré-fabricadas. Simplesmente potencializando trio "MSN" e, com liberdade, extraindo melhor de cada um. Dentro de tal contexto, agressivo pressing nos primeiros instantes após perda da esfera mostrou-se vital. Aspecto "guardiolista", usado para minimizar saídas de posição e personificado em Busquets. Pois Sergio dava cinco passos à frente, matava transição ofensiva rival e impedia que todos tivessem de dar 40 para trás. Inclusive, Lionel deixou de retornar e Barça passou a viver defesa posicional em um 4-4-2. Naquele momento da temporada, tendo trinca ofensiva em seu ápice futebolístico, nada mais poderia ser tão eficiente.

Desta maneira, depois de tantas reviravoltas, se pôde finalmente ver Messi, Suárez e Neymar em suas respectivas essências. Inúmeros tentos tiveram participação de todos eles, se criou um dogma em torno disto. De forma irônica, apesar de todos os problemas vividos na Baviera, classificação à final sobre Bayern de Munique de "Pep" Guardiola simboliza por completo mudança estrutural. Se passado havia sido embasado em jogos de memória, com ideias claras e constantes, presente apresentava cenário muito distinto. Em prol do coletivo, brilharam as individualidades. Vieram os títulos, os festejos e, metaforicamente, Xavi Hernández se despediu do clube carregando uma bola. Emblema de épocas diferentes, levou consigo tudo aquilo. O jogo que lhe consagrou, e que ele ajudou a consagrar. Não restavam mais dúvidas, era outro Barcelona.

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Último ponto do 2014-15 culé
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Todas as fases do Barcelona

Em destaque, também, Gerard Piqué, Claudio Bravo, Marc-André Ter Stegen e forma como Luis Enrique administrou situação de Xavi. Neste ciclo transicional, aos 35 anos, ídolo teve grande importância. Certo é que, sem Messi no nível em que esteve, pouco disto teria se materializado. Entretanto, sensível, técnico espanhol pode gozar de vários méritos. Afinal, comandar uma revolução tão grande não é nada fácil.

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